O combate contra a corrupção, sempre

ByAnselmo Agostinho

15 de Fevereiro, 2024

Por vezes, surgem factos que nos obrigam a pensar. A recente opinião de um grupo de trabalho das Nações Unidas sobre Carlos São Vicente é um desses factos.

Vamos pensar um pouco sobre o combate contra a corrupção. A corrupção não termina em dois ou três anos, trata-se de um combate de décadas e permanente. Não existem soluções mágicas. Começando, tem de se ir aperfeiçoando.

Dos anos que já leva, algumas conclusões se podem retirar, sobre o combate contra a corrupção.

A corrupção alimentava directamente o topo do Estado, era uma política e prática assumida pelos principais dirigentes. Houve uma verdadeira captura do Estado por parte dos corruptos. Por isso, não tem sido fácil esse combate. Os grandes corruptos são os homens e mulheres do dinheiro. Literalmente, compram as pessoas para manter os seus privilégios e tentar afastar quem combate a corrupção, criam agitação promovem a subversão.

Fácil, é combater os pequenos corruptos, directores nacionais, vice-governadores, directores provinciais. Tarefa hercúlea é combater os grandes corruptos que capturaram o Estado. Têm um conjunto de meios ao seu dispor que tenta abalar as estruturas do presente poder político.

Este contexto explica, em parte, a opinião do grupo de trabalho da ONU. Somente um rico oligarca conseguiria chegar a Suíça e fazer mover uma gente na ONU, que ainda por cima olham para Angola com um preconceito terceiro-mundista. Muito pior tem acontecido em jurisdições europeias, como Portugal, por exemplo, e ninguém na ONU faz barulho sobre o sistema de justiça luso. Existe uma visão eurocêntrica, talvez racista neste “puxar de orelhas” a Angola. E também uma visão plutocrática. Apenas ricos lá chegam.

Como se disse no início, tem de ser feita uma reflexão. Esta é simples.

Em relação aos grandes corruptores do Estado, tem de ser criado um sistema próprio de combate contra a corrupção-muitos comentadores defendem isso- que ultrapasse a capacidade de bloqueio das instituições que eles têm. Este não se trata de um combate normal, mas extraordinário, por isso, meios extraordinários devem ser usados.

Esta é a grande reflexão que a decisão do grupo de trabalho da ONU nos suscita: o combate contra os grandes corruptos tem de ser feito de modo diferente, muito mais intenso, e tendo em conta a sua capacidade de influenciar e comprar mentes.