Soube bem ouvir as recentes declarações do CEO da Sonangol sobre a relevância estratégica das participações da Sonangol em Portugal no Banco Millennium BCP e na petrolífera GALP, duas das grandes empresas de referência em Lisboa.
É importante que a Sonangol reconheça o papel estratégico destas participações e a sua contribuição para um arco de cooperação económica real entre Angola e Portugal que tem estado algo adormecido ultimamente.
Contudo, falta dar mais um passo para a concretização dessa valia estratégia, em cada uma das empresas mencionadas.
No caso do Millennium, a Sonangol só teria a ganhar na recuperação do seu lugar cimeiro na estrutura acionista do banco, substituindo a chinesa Fosun que está numa fase de venda de ativos para recuperar a liquidez. Refira-se que a Fosun tem uma dívida de 40 mil milhões de dólares, e viu recentemente a agência de notação financeira Moody’s colocar o ‘rating’ com a nota de crédito Ba3, em revisão para possível baixa. Embora a Fosun refira oficialmente que a sua posição no BCP não está à venda, esta poderia ser a oportunidade para haver uma troca de lugares relativos entre a Fosun e a Sonangol no banco português, permitindo que a empresa angolana beneficiasse das sinergias financeiras portuguesas e passasse a ter uma posição mais ativa no mercado bancário português.
No caso da Galp, além da exploração de potenciais acordos na área das novas energias, seria importante, embora mantendo o bom relacionamento, que a posição da Sonangol passasse a ser direta e não através da família portuguesa Amorim. Isto quer dizer que a Sonangol participaria diretamente no capital da Galp e não por interposta pessoa, como acontece agora.
A potenciação do valor estratégico das posições da Sonangol em Portugal tem de ser uma realidade, servindo para a afirmação do novo paradigma de governação em Angola e não resultar numa postura envergonhada sem manifesta relevância ou feed-back estratégico.