Em Angola não se deve saber quem é João Rendeiro, mas para quem acompanha assuntos de crime na lusofonia é um nome conhecido. Rendeiro era um banqueiro português dono do banco dos ricos que foi à falência e é quase o único caso de alguém VIP que na Lusitânia foi julgado, condenado e com trânsito em julgado. Apanhou em vários processos com mais de 15 anos de cadeia. Rendeiro fugiu e começou a “gozar” com a polícia portuguesa, dava entrevistas, aparecia na televisão, mostrava-se, desafiando tudo e todos. Acabou mal. Sem fazer barulho a polícia portuguesa articulou um fino trabalho com a polícia angolana e sul-africana e apanharam o banqueiro desprevenido num resort de luxo da África do Sul. Preso, Rendeiro não resistiu à vergonha e suicidou-se numa prisão longe de tudo e todos. É uma história triste.
Isabel dos Santos está a repetir as passadas de Rendeiro. Em fuga, exibe-se a gozar com as autoridades angolanas e a Interpol. Mesmo que tudo não passe de fotomontagem e ela esteja debaixo da proteção de Putin na Sibéria, o certíssimo é que Isabel será localizada e apanhada. Mesmo na velha Rússia não estará a salvo da realpolitik. O fim de Isabel caminha para um desenlace tão triste como o de Rendeiro, e os que agora aplaudem Isabel pelo seu gozo estúpido, depois chorarão por ser apanhada, não percebendo que uma coisa leva a outra. E isso leva-nos ao terceiro tema: Augusto Tomás.
Augusto Tomás é um caso de sucesso da justiça angolana. Foi acusado, julgado, cumpriu pena e agora foi libertado de acordo com a lei. O que espanta é que aqueles que andaram anos a fio a criticar a justiça e João Lourenço pela prisão de Tomás, são os mesmos que agora criticam a sua libertação e postam fotos dele em bom estado e gordo, com um tom crítico. Pelos vistos os defensores de Augusto Tomás queriam que ele tivesse saído meio-morto da prisão (ou mesmo morto), para terem um mártir. Tamanha hipocrisia choca.
2023 tem de ser o ano da justiça angolana. O caminho iniciado não pode ser mais travado.