Unita: O programa zero

ByTribuna

23 de Julho, 2022

É sempre importante ir além das palavras encantantes e das músicas sonoras e perceber o que está por detrás.

Finalmente, a Unita-ACJ divulgou o seu programa e assim pôs à vista de todos uma mistura de conversa fiada com ideias gerais. Tirando no assunto corrupção e no desmantelamento do Estado e de Angola, a Unita-ACJ não tem uma ideia original ou uma proposta nova. Copia ou enrola-se.

Primeiro brinda-nos com uma confusão entre Desafios Prioritários e Eixos Estratégicos, apresentando distinções e propostas que não acompanham a evolução que a economia e a vida em Angola sofreram nos últimos tempos.

O foco do programa é em ACJ. A sua imagem aparece em todas as páginas. A aposta do marketing político é na imagem de ACJ como presidente. Para a actual Unita-ACJ nada mais importa do que o seu presidente. Este culto de personalidade torna-se tóxico.

Quanto a ideias e políticas, o programa parece ter sido feito por uma consultora internacional devido á linguagem abstracta e descontextualizada utilizada. Parece uma espécie de copy-paste.

Surgem “pérolas” claramente copiadas de um programa qualquer de outra parte do mundo: “Desenvolver o pólo de investigação para a criação de novas moléculas”.  Vê-se que isto é retirado de algum lado que nada tem a ver com Angola.

Como também: “Induzir hábitos e métodos de trabalho alinhados com as melhores práticas internacionais.” Isto não é nada, é zero.

Com manifesta proveniência copy-paste também temos a seguinte proposta: “Regular no sentido de adicionar ao plano curricular de todos os jovens a partir dos 9 anos de idade, disciplinas relacionadas com o empreendedorismo e noções de competitividade no mercado.”

A substância do programa é composta por ideias gerais, sem consistência e valor acrescentado.

Os Jovens saem defraudados. Não há quase nenhuma atenção.

Muitas das medidas já estão a ser executadas pelo governo:

-Dinamizar o Agronegócio

-Simplificar todo o processo de criação de micro, pequenas e médias empresas ou cooperativas com articulação automática entre a autoridade tributária, a segurança social, a banca e as entidades reguladoras.

-Reduzir a importação de bens passíveis de serem produzidos em Angola.

As diferenças essenciais estão no combate à corrupção e na revisão da Constituição e estrutura do Estado.

Em relação ao combate à corrupção, a proposta é de volta ao passado, com um perdão geral e reabilitação de todos os que saquearam o Estado.

Esta expressão do programa sobre a corrupção é síntese: “Reabilitar pessoas e empresas que possam ter estado envolvidos em processos de corrupção activa ou passiva”.

O sentido prático retirado das propostas contra a corrupção é que esta terminará. Haverá uns acordos e tudo voltará ao estado anterior.

Finalmente, a proposta de destruição de Angola: “Definir Angola como um Estado unitário descentralizado que inclua Cabinda como Região autónoma com um estatuto devidamente negociado e uma região administrativa e metropolitana para Luanda.”

Aqui temos o início da desagregação do país, a uma autonomia seguir-se-ão outras e depois as independências. É um caminho sem retorno.

Ao nível do sistema político as propostas também se encaminham para um sistema de despoder e anarquia, debaixo de um manto de boas intenções e cópias de Portugal, que não resultaram no país colonial, muito menos em Angola.

Na prática, o programa da Unita ou não diz nada de novo ou quer acabar com o combate à corrupção e dividir o país, acabando com ele. Mais nada.