Em Janeiro de 1960 o Presidente do Conselho, António Oliveira Salazar, chamou a Lisboa o Governador Geral de Angola, Horácio José de Sá Viana Rebelo, para uma mudança radical na política ultramarina, em consequência da Resolução 1514, de 14 de Dezembro de 1960, que continha a Declaração sobre a Concessão da Independência aos Países e Povos Coloniais. Portugal que tinha sido admitido na ONU em 1955, não queria criar clima hostil.
Decidiu-se implementar a política da “psico” no território e criar uma ideia de transição de Poder de um governo de Negros subjugados à Lisboa. Em reunião alargada entre a Sociedade Branca, as Igrejas Católica e Protestante, fez-se o esboço daquilo que mais adiante deu origem à UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola, cumprindo a exigência de Portugal de não ostentar a palavra “Libertação”.
Para a liderança fora escolhido o Príncipe Negro, Joaquim Ferreira Lambo, católico, professor, natural da aldeia de Chirimba, município de Ukuma, província do Huambo. A segunda exigência era de que teria de ser da etnia Ovimbundo.
Mas não tardou mais um contratempo, a Resolução 1541, de 15 de Dezembro de 1960, aprovada por 69 votos a favor, dois contra e 21 abstenções. Nela constavam os princípios que deveriam guiar os estados-membros para determinar se tinham ou não a obrigação de transmitir as informações solicitadas no artigo 73.º da Carta sobre os territórios não autónomos. Embora não apresente menções específicas a Portugal, o objetivo era a reprovação da argumentação portuguesa, segundo a qual as suas colónias eram províncias ultramarinas.
Entretanto Portugal perde o Estado da Índia, Nero ordenara a invasão do território fazendo prisioneiros as tropas portuguesas comandadas pelo general Vassalo e Silva.
Envenenado em circunstâncias nunca explicadas, Joaquim Ferreira Lambo morre no hospital da Missão Adventista do Bongo, e é sepultado com honras de Estado, com guarda militar e presença do governador, coronel Nascimento Vieira.
Entretanto precipitam-se os acontecimentos com a revolta dos algodoeiros na Baixa de Cassanje, e o assalto às cadeias de Luanda, numa altura em que estava de visita a Angola, uma Missão da ONU para verificar as condições de vida no território. Em 15 de Março dá-se início à Luta Armada que durará até a Independência Nacional.
Em 1964 sob a égide do Governador Geral de Angola, Tenente-Coronel Silvino Silvério Marques, retomam-se as negociações para a implementação da UNITA, e reuniram-se de novo os mesmos protagonistas, e desta vez por exigência do primeiro acordo, caberia aos Protestantes escolher o líder. Entretanto em 1964 implementa-se a OPVDCA – Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civil de Angola, Decreto-Lei n.º 45 974 de 17 de outubro de 1964, que chegou a atingir em 40.000 efetivos, os ditos Flechas, que em 1975 deram corpo às FALA, braço armado da UNITA.
Em 1965, já com as tropas de Moisés Tchombé assimiladas pelos portugueses, “Fieis Catangueses ou simplesmente Fieis – força composta por militares e polícias zairenses da região do Catanga, exilados por se oporem ao regime de Mobutu, estes militares e policias refugiaram-se em Angola juntamente com as suas famílias perfazendo um total de quase 5.000 pessoas. O exército português selecionou 2.000 desses exilados e organizou-os em 3 Batalhões de 5 companhias cada, estando esses três batalhões colocados em Chimbila, Camissombo e Gafaria. Esses Batalhões possuíam os seus próprios oficiais e sargentos.”
Em 1965 em reunião aprazada para assinatura do Acordo com a UNITA, já sob liderança de Jonas Malheiro Savimbi, protestante, para ser realizada em Munhango, foi na véspera marcada para a escola de Umpulo, e Portugal fez-se representar pelo Comissário da PIDE/DGS, Óscar Cardoso.
Mas cedo o comportamento e exigências de Jonas Savimbi tornaram-se insuportáveis, a sua formação maoista exercia sobre ele uma conduta rebelde, há relatos de exigências que vão desde mulheres a objetos e ouro, perfumes e exageros que pressupunham uma vida de luxo.
Portugal afasta-se por entendê-lo bipolar, líder e psicopata, e ele rebela-se no ataque a Teixeira de Sousa “Luau” na noite de Natal de 1966.
Em 1972 na criação do Estado de Angola, para a Assembleia Legislativa elegem deputado Venâncio da Silva Lambo, e para Lisboa tinham levado o sobrinho do Príncipe Negro, Dr, Luís Gonzaga Ferreira Lambo, que fora quadro do Ministério do Ultramar.
Mesmo assim, em 1975 no Acordo do Alvor, a UNITA foi assessorada pelo advogado luandense Joaquim Fernandes Vieira, por ausência de qualquer jurista nos seus quadros. As FALA só nascem como força militar no ajuntamento do Kuanza em 1975, com o aproveitamento dos Flechas e dos desmobilizados das Forças Armadas portuguesas.
A UNITA nunca foi politicamente normalizada, nem militarmente disciplinada, têm subsistido num Império do Medo, que persiste e urge estancar.