A vitória de Hichilema é uma vitória de João Lourenço

ByTribuna

17 de Agosto, 2021

Há um equívoco numa campanha de propaganda que inundou as redes sociais ligando a presente vitória de Hakainde Hichilema na Zâmbia a uma derrota de João Lourenço em Angola. Hichilema não é um anti- Lourenço, pelo contrário, o seu programa é uma réplica daquele que o Presidente da República está a implementar em Angola.

A vitória de Hichilema reforça a política de João Lourenço.

O anterior Presidente Lungu deixou o país com os cofres vazios- tal como João Lourenço os encontrou em 2017-, contraiu empréstimos que apenas serviram para financiar a corrupção das elites dirigentes, e estava a destruir o país.

O recém-eleito Presidente apresenta-se com um programa que assenta em princípios claros: combate à corrupção, conversações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) com vista a implementar reformas económicas e contrair um empréstimo e criação de condições de confiança para o retorno do investimento estrangeiro.

Ora, facilmente se percebe que este foi o programa seguido, com sacrifício e dureza, pois os problemas não se resolvem da noite para o dia, por João Lourenço. Há uma similitude quase a papel químico entre a política proposta por Hichilema e a já seguida por João Lourenço.

Por isso, é ridículo e só demonstra uma profunda ignorância da realidade zambiana, as interpretações que relacionam a vitória de Hichilema com um desgaste do governo angolano. A Zâmbia vai começar uns anos mais tarde, o processo de reformas que Angola já iniciou, depois de ver o país quase a esboroar-se.

Hichilema não é um populista ou um revolucionário, mas sim um político determinado. Nasceu numa família humilde no distrito de Monze, no sul do país. Conseguiu uma bolsa de estudos para a Universidade da Zâmbia, e mais tarde formou-se com um MBA pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido. Entretanto, tornou-se um dos homens mais ricos da Zâmbia, com interesses comerciais em finanças, pecuária, propriedade, saúde e turismo.

O presidente da Zâmbia é o chefe de estado e chefe de governo da Zâmbia. O cargo foi ocupado pela primeira vez por Kenneth Kaunda após a independência em 1964. Desde 1991, quando Kaunda deixou a presidência, o cargo foi ocupado por cinco outros: Frederick Chiluba, Levy Mwanawasa, Rupiah Banda, Michael Sata e Edgar Lungu. Desde 1991, o presidente é também o chefe do governo. O presidente é eleito por um período de cinco anos e o titular do cargo está restrito a dois mandatos consecutivos. O partido do anterior presidente, agora derrotado, Edgar Lungu, era a Frente Patriótica que resultava de uma cisão de outro partido, o MMD que por sua vez tinha sucedido no poder ao UNIP de Kaunda.

Quer isto dizer que a história política e eleitoral da Zâmbia não tem qualquer comparação possível com Angola, pois assistiu a uma dinâmica completamente diferente. Não foi por isso que a Zâmbia foi mais feliz ou infeliz. O certo é que o tempo de Lungu assistiu a uma degradação da vida política, económica e social da Zâmbia, semelhante àquela com que Angola se deparou no passado e o novo Presidente vai seguir os remédios do Presidente João Lourenço.