Em Angola, a discussão em público tem vindo a ser marcada por uma crescente polarização que se manifesta sobretudo nas redes sociais e em parte da imprensa privada.
O que deveria ser um ambiente de debate plural e saudável transformou-se, em muitos casos, num terreno dominado pela maledicência e pelo ataque pessoal. Hoje, tornou-se mais fácil e até mais popular denegrir a figura do Presidente da República e atacar de forma desonrosa o MPLA do que apoiar as suas políticas ou criticar de forma construtiva a oposição. Esta realidade levanta sérias preocupações sobre a qualidade da democracia e sobre o respeito pela liberdade de expressão, pois o contraditório e a diversidade de opiniões parecem ter perdido espaço para a toxicidade e para a desinformação nas entidades ligadas à oposição.
As redes sociais, que poderiam ser instrumentos de democratização da palavra, acabaram por se tornar veículos privilegiados de ataques sistemáticos e de discursos polarizadores. A lógica algorítmica favorece conteúdos sensacionalistas e radicais, criando bolhas onde apenas a crítica ao Presidente encontra eco e onde qualquer tentativa de defesa das políticas governamentais é rapidamente ridicularizada ou silenciada.
Este ambiente hostil não contribui para o diálogo, antes fomenta a intolerância e a exclusão de vozes divergentes.
Parte da imprensa privada segue a mesma linha, dando palco quase exclusivo às críticas contra João Lourenço e o MPLA, sem abrir espaço para o contraditório ou para análises equilibradas.
O jornalismo, que deveria ser guardião da verdade e da pluralidade, corre o risco de se transformar em instrumento de oposição política, comprometendo a credibilidade dos meios de comunicação e limitando o direito dos cidadãos a receber informação completa e imparcial.
Neste contexto, torna-se fundamental reforçar os meios públicos de comunicação, não como instrumentos de propaganda, mas como espaços capazes de contrapor a toxicidade e assegurar que todos os cidadãos tenham acesso a informação equilibrada.
Os meios públicos devem cumprir a sua missão de informar, educar e promover o debate plural, dando espaço tanto às críticas como às defesas das políticas em curso. Só assim será possível garantir que a liberdade de expressão seja verdadeiramente universal e que apoiar o governo seja tão legítimo quanto criticá-lo.
A democracia só é plena quando todos têm direito à palavra e à expressão. Isso significa que a oposição deve ser questionada com o mesmo rigor que se aplica ao poder e que o ambiente atual, em que apenas a crítica ao Presidente parece ser tolerada, constitui um atentado à diversidade de opiniões.
Angola precisa de ter um espírito de diálogo e de respeito mútuo, onde a crítica seja feita com responsabilidade e honestidade intelectual, e onde o contraditório seja valorizado como parte essencial da vida democrática. O reforço dos meios públicos é, portanto, um passo necessário para contrapor a toxicidade inventada nas redes sociais e na maioria da imprensa privada para garantir que todos, sem exceção, possam exercer o seu direito à palavra e à participação.
Este é o desafio que se coloca ao país: transformar a discussão pública num verdadeiro fórum de ideias, onde a liberdade de expressão não se confunda com insulto e onde o direito à palavra seja respeitado em toda a sua amplitude.

