A infiltração política dos criminosos russos

ByAnselmo Agostinho

3 de Dezembro, 2025

A organização criminosa dos russos tinha uma estratégia de infiltração política multifacetada, concebida para atingir simultaneamente o principal partido da oposição, a UNITA, e figuras influentes do partido no poder, o MPLA.

O processo de aproximação à UNITA foi conduzido por Oliveira Francisco, que iniciou contactos com Manuel Armando da Costa Ekuikui, conhecido como “Nelito Ekuikui”.

A escalada hierárquica levou depois ao envolvimento do General Armindo Lucas Paulo Lukamba, “Gato”, que se tornou o interlocutor principal da organização.

Houve várias reuniões realizadas com a liderança da UNITA, incluindo um encontro decisivo a 11 de março de 2025 com o presidente Adalberto Costa Júnior. Para ocultar a sua verdadeira identidade, os operacionais russos foram apresentados como jornalistas. Durante estes encontros, a UNITA terá solicitado apoio em segurança, através de materiais metodológicos, assistência financeira e formação para membros do partido no exterior.

Paralelamente, a organização procurou cultivar relações com figuras do MPLA, explorando divisões internas e potenciais rivalidades.

Foram realizadas reuniões com o General Francisco Higino Lopes Carneiro, nas quais se discutiu a sua eventual candidatura à presidência do partido e foi prometido avultado financiamento para a campanha presidencial em vários milhões de dólares.

Ocorreram também múltiplos encontros com o Engenheiro António Venâncio, centrados na política interna do MPLA, na sucessão presidencial e em temas estratégicos como o corredor do Lobito.

A estratégia de engajamento bipartidário visava criar condições para influenciar decisores políticos em ambos os campos, ampliando o alcance da operação e reforçando a capacidade de desestabilização da organização em Angola.