Operação Ciência Política de Angola: a teia russa de desinformação e influência estratégica

ByAnselmo Agostinho

2 de Dezembro, 2025

A Operação “Ciência Política de Angola” agora totalmente comprovada emergiu num contexto de reestruturação estratégica dos interesses russos em África após a morte de Yevgeny Prigozhin, em Agosto de 2023.
Os activos e operações do Grupo Wagner foram absorvidos pela “África Corps”, uma estrutura paramilitar que manteve presença no continente através de subsidiárias como a “África Politology”. O modelo operacional da “África Corps” baseia-se num mecanismo de autofinanciamento, em que serviços de segurança e apoio militar são trocados por concessões lucrativas de recursos naturais — ouro, diamantes e madeira — permitindo aos Estados clientes contornar sanções internacionais.
Neste enquadramento, foi lançado o projeto específico para Angola, denominado “Ciência Política de Angola”.
A operação teve início a 9 de outubro de 2024, com a chegada a Luanda da equipa operacional russa composta por Olga Smirnova, Evgeniia Silina, Maxim Shugaley e Samer Suaifan, que estabeleceu a sua base de trabalho no Protea Hotel Luanda-Marriot.
A metodologia da “África Politology” assentou na aplicação de táticas de guerra híbrida, incluindo propaganda profissionalizada e campanhas de desinformação, operações de inteligência como a clonagem em larga escala de sites de notícias, ciberespionagem e uso de tecnologias de informação para difundir narrativas específicas, além do fomento de sentimento antiocidental e da radicalização de grupos descontentes com o objetivo de influenciar decisores políticos.
Foi a partir desta doutrina que a organização delineou os seus planos concretos para o território angolano.
São identificados três objetivos estratégicos centrais que estruturam a operação.
O primeiro era de natureza política: provocar uma alternância no poder, seja pela condução da UNITA ao governo, seja pela imposição de uma mudança na liderança do MPLA que resultasse na ascensão de um presidente alinhado com Moscovo.
O segundo objetivo era económico: assegurar o controlo sobre recursos estratégicos de Angola, como o corredor do Lobito, a Biocom e empresas de exploração de diamantes, que funcionariam como contrapartida pelos serviços prestados na esfera política.
O terceiro objetivo consistia numa guerra de informação: a criação e difusão em massa de textos, notícias e opiniões críticas ao poder instituído, disseminadas em redes sociais, jornais e rádios, com o intuito de gerar instabilidade, minar a confiança nas instituições e moldar a opinião pública a favor dos interesses da organização.

A concretização destes objetivos exigiu a montagem de uma estrutura operacional coesa e com uma divisão de tarefas bem definida, revelando a dimensão e a sofisticação da operação que visava garantir uma influência duradoura e lucrativa em Angola.