Quem é que ainda não percebeu que é urgente a Nova República?

ByAnselmo Agostinho

19 de Setembro, 2025

A ideia de uma Nova República em Angola emerge como uma resposta ao esgotamento do modelo político vigente, marcado por práticas agravadas por décadas de guerra civil e patrimonialismo institucional cultivado pelo santismo corupto. A persistência da “velha tralha” — expressão que simboliza não apenas figuras políticas resistentes à renovação, mas também estruturas que perpetuam a ineficiência, a opacidade e a exclusão — revela a dificuldade de romper com lógicas de dominação clientelar que continuam a minar o desenvolvimento democrático e social do país.

Neste contexto, as oposições, longe de se afirmarem como alternativas credíveis, perdem-se em divergências internas, estratégias erráticas e, por vezes, em alianças ambíguas com figuras do passado que, despojadas das suas prebendas, alimentam discursos virulentos e revanchistas. A crítica à sua atuação não se limita à falta de coesão, mas estende-se à ausência de propostas estruturadas, à tentação conspirativa e à reprodução de hábitos políticos que deveriam estar superados. A referência a encontros conspirativos em restaurantes luxuosos em Lisboa, embora carregada de sarcasmo, aponta para uma classe política que, longe do país, parece mais empenhada em sabotar do que em construir.

A cultura política angolana, em todos os quadrantes partidários, revela-se prisioneira de ciclos de desconfiança, personalismo e oportunismo. A maledicência, a sabotagem e a falta de bom senso predominam, inviabilizando qualquer projeto de reforma profunda. Neste cenário, a proposta de uma Nova República não se apresenta como mera retórica, mas como uma necessidade histórica: um novo contrato social que redefina as bases da convivência política, promova a transparência, a participação cidadã, e a justiça social.

A Nova República implicaria uma revisão constitucional que agilize o executivo, uma reforma profunda do sistema eleitoral e judicial, a redefinição das relações entre Estado e sociedade civil, o combate estrutural à corrupção e ao nepotismo, e a inclusão das periferias políticas e territoriais no processo decisório. Não se trata de destruir o que existe, mas de superar o que já não serve. A alternativa não é o caos, mas a coragem de imaginar e construir um novo horizonte político, onde o Estado seja instrumento de cidadania.