A Europa vive uma guerra silenciosa. Não se trata de tanques ou mísseis, mas de palavras, imagens e algoritmos.
Desde a invasão da Ucrânia, a Rússia intensificou uma campanha de desinformação e interferência digital que visa minar a coesão interna da União Europeia, influenciar eleições e promover os seus interesses estratégicos. Alemanha e França estão entre os principais alvos desta ofensiva híbrida.
As operações russas de desinformação são conduzidas por uma estrutura conhecida como FIMI (Foreign Information Manipulation and Interference), que envolve canais estatais, meios de comunicação controlados pelo Kremlin, plataformas disfarçadas e redes não atribuíveis directamente ao Estado.
O objectivo é claro: semear divisão, desacreditar instituições democráticas e amplificar vozes extremistas.
Um exemplo é a rede Pravda, também chamada Portal Combat, que desde 2013 espalha propaganda pró-Rússia em vários idiomas europeus.
Estudos recentes revelam que países como Moldávia, Letónia, Estónia, Sérvia e Arménia são alvos preferenciais, devido à sua vulnerabilidade geopolítica.
Na Alemanha, a operação “Doppelgänger” tornou-se emblemática. Tratou-se da clonagem de sites de grandes jornais como Der Spiegel, Die Welt e Süddeutsche Zeitung, que são replicados com conteúdos manipulados e depois disseminados por bots em redes sociais. O presidente do Departamento Federal para a Protecção da Constituição (Serviços de Inteligência), Thomas Haldenwang, alertou para “operações de influência” que misturam ciberataques com desinformação coordenada.
Além disso, uma campanha de sabotagem foi descoberta em Fevereiro de 2025, envolvendo vandalismo em mais de 270 veículos em várias regiões alemãs. Inicialmente atribuída a activistas climáticos, a acção foi ligada a operativos russos que contrataram jovens por €100 por veículo para gerar revolta contra o Partido Verde antes das eleições nacionais.
Em França, a operação “Storm-1516” revelou uma nova dimensão da guerra informacional: o uso de inteligência artificial para criar perfis falsos e vídeos manipulados.
Entre Agosto de 2023 e Março de 2025, foram identificadas quase 80 campanhas de desinformação russas. Os alvos incluem o presidente Emmanuel Macron, sua esposa Brigitte Macron e temas sensíveis como imigração e segurança.
O ministro francês Jean-Noël Barrot afirmou que “o debate público europeu está a ser bombardeado por campanhas de desinformação conduzidas por entidades russas e amplificadas por influenciadores da extrema-direita americana”.
Na Alemanha, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) tem sido associado a narrativas pró-Rússia.
Dois dos seus principais candidatos às eleições europeias, Maximilian Krah e Petr Bystron, enfrentam investigações por alegadamente terem recebido pagamentos de fontes russas para promover propaganda do Kremlin.
Na França, o Rassemblement National (RN), liderado por Marine Le Pen, foi apontado num relatório parlamentar como “correia de transmissão” da Rússia. O documento destaca o alinhamento do partido com o discurso russo desde a anexação da Crimeia em 2014, incluindo um empréstimo obtido junto de uma instituição financeira russo-checa. Le Pen chegou a ser recebida por Vladimir Putin no Kremlin em 2017.
A guerra invisível travada pela Rússia contra a Europa não se limita ao campo militar, mas infiltra-se nas redes sociais, nos partidos políticos e nas percepções públicas.
Este é o mesmo esquema que se pretendia desenvolver em Angola (e noutros países de África). Ao contrário do que muitos avençados ou imbecis vêm dizer, não é algo inocente, ou uma actividade cultural. É uma tentativa clara de interferir no processo político na Europa, como em Angola.