Falam muito e acertam pouco, a começar pelo Gama que por alguma razão estranha acha que sabe tudo. E não sabe. Nem ele nem ninguém dos faladores das redes.
Por isso, aqui vai uma explicação objetiva sobre a Africa Politology e o seu impacto em África.
A Africa Politology, organização criada como braço de influência do antigo grupo paramilitar russo Wagner, tornou-se uma das principais ferramentas de influência russa em África.
A sua atuação vai muito além de Angola, onde operacionais foram recentemente presos por promoverem campanhas de desinformação e manipulação política.
Em vários países africanos, esta organização tem operado com métodos sofisticados para influenciar eleições, fomentar conflitos internos e minar a presença ocidental.
Angola não é caso isolado.
Na República Centro-Africana, a organização tem desempenhado um papel ativo na desinformação contra instituições internacionais. Campanhas digitais foram lançadas para desacreditar a ONU e pressionar pela retirada de forças de paz. Além disso, promoveu processos judiciais contra jornalistas independentes e meios de comunicação ocidentais, tentando silenciar vozes críticas ao regime apoiado por Moscovo.
No Sudão, a Africa Politology esteve envolvida em campanhas de apoio a líderes militares durante o golpe de Estado, utilizando redes sociais para difundir mensagens pró-russas e atacar opositores. A sua presença coincidiu com o aumento da influência russa nas minas de ouro do país, revelando uma ligação direta entre interesses económicos e manipulação política.
Na Líbia, a organização atuou em conjunto com mercenários do Wagner para apoiar facções armadas, interferindo no processo de paz e nas negociações internacionais. A desinformação foi usada para legitimar a presença russa e enfraquecer os esforços da ONU.
No Mali, após o afastamento das forças francesas, a Africa Politology intensificou sua presença digital, promovendo narrativas antiocidentais e pró-Kremlin. A organização ajudou a consolidar o apoio popular ao governo militar, que passou a depender fortemente da assistência russa.
Desde a morte de Yevgeny Prigozhin em agosto de 2023 e o colapso do grupo Wagner, as operações russas em África passaram por uma reestruturação profunda. A Africa Politology, antes subordinada ao Wagner, está agora sob o comando da Africa Corps, uma nova formação paramilitar diretamente subordinada ao Ministério da Defesa da Rússia. A Africa Corps mantém os mesmos objetivos estratégicos: expandir a influência russa no continente, controlar narrativas políticas através de desinformação e apoiar regimes aliados enquanto explora recursos naturais.
A transição para a Africa Corps marca uma mudança de tática: enquanto o Wagner operava como força privada com margem de negação plausível por parte do Kremlin, a Africa Corps representa uma presença militar mais formal e estatal, o que levanta preocupações adicionais sobre soberania e segurança em países como Angola.
A ameaça que representa é profunda.
Em países com instituições frágeis, como muitos Estados africanos, a capacidade de resistência à manipulação externa é limitada.
Angola, ao desmantelar parte desta rede, tornou-se um símbolo de resistência, mas o desafio permanece em todo o continente.
Em Angola também, os seus tentáculos estenderam-se para atores políticos muito relevantes que receberam avultadas somas, e, sobretudo, criaram redes de influência para desestabilizar os processos eleitorais partidários e posteriormente gerais em Angola.
A guerra de influência não se trava apenas com armas, mas também com narrativas, dinheiro e manipulação. E neste campo, a vigilância, a transparência e a cooperação regional tornam-se armas essenciais.