Sinto que quando a voz do Povo é usurpada pelo vandalismo, precisamos urgentemente de um Lamento de Consciência Patriótica.
Quanto ao que testemunhamos ontem, em Luanda, não foi apenas o diesel que subiu, subiram também as nossas dúvidas, os nossos medos e, sobretudo, a nossa vergonha. Aquilo que devia ser um exercício constitucional, legítimo e honesto de cidadania, transformou-se diante dos nossos olhos num triste palco de aproveitamento político, vandalismo e destruição gratuita.
Eu escrevo com o coração apertado, porque vi o meu povo, jovens como eu, pais como eu, cidadãos como eu, perderem o rumo num mar de manipulação e fúria cega. E me pergunto, diante das cinzas ainda quentes dos carros queimados, das portas arrombadas de estabelecimentos de trabalho honesto, das lágrimas silenciosas de quem foi impedido de exercer sua atividade dignamente: onde estamos a ir? Para quem, afinal, estamos a lutar?
A manifestação, esse direito nobre consagrado pela Constituição da República de Angola, não foi o que vimos. O que assistimos foi o sequestro da democracia, foi a máscara caída de quem não quer apenas gritar contra o preço do combustível, mas incitar ao caos com fins que nada têm a ver com o bem comum.
Há mãos invisíveis, sim. Há interesses obscuros que não têm qualquer compromisso com o povo, mas apenas com o poder. E os instrumentos que usam, lamentavelmente, somos nós: a juventude. Aqueles que mais precisam de esperança, são os primeiros a serem usados como escudo para uma batalha que não lhes pertence.
Sou jovem, sim. Tenho necessidades, sim. Mas a violência, o saque, o fogo, a destruição… resolverão os meus problemas? Agindo assim, garanto um futuro melhor para mim, meus filhos e meus netos?
Que tipo de legado estou eu a deixar, como pai, como filho, como futuro dirigente deste país? Que tipo de história contarei aos meus netos quando me perguntarem onde estive quando Angola clamava por lucidez?
Há quem grite “liberdade”, mas que no fundo quer apenas confusão. Há quem se esconda por trás de jovens de rosto limpo e sonhos suados, apenas para queimar o que não construiu, para destruir o que outros ergueram com sacrifício.
Pergunto com tristeza: que jovem com sua juventude a florescer, com planos no bolso e sonhos no coração, arriscaria sua vida a troco de nada? Quem lideraria com entusiasmo verdadeiro uma multidão rumo ao fogo, ao crime, ao confronto com as autoridades, se não por promessas ocultas ou recompensas clandestinas?
Sejamos sinceros: alguém está a querer estragar o que nós, com sacrifício e sangue, temos construído.
E digo mais: manifestação, sim mas com dignidade. Protesto, sim mas com respeito. Voz, sim mas sem gritar destruição. Não podemos permitir que transformem o direito à manifestação num instrumento de sabotagem nacional. Não sejamos cúmplices, nem massa de manobra.
Quem saqueia, queima e destrói está a destruir o próprio país que diz querer salvar. Está a ferir o povo que diz querer defender. Está a condenar as gerações que diz querer libertar.
Esses actos, meus irmãos, não nos beneficiarão em nada. A dor que causamos hoje, voltará amanhã contra nós. E a reconstrução, sempre mais difícil do que a destruição, recairá sobre os nossos ombros, não sobre os daqueles que nos incitaram.
Sim, alguém quer o poder a todo custo. E se for preciso incendiar Angola para isso, eles não hesitarão. Mas nós, o povo, temos o dever de dizer não. Não sejamos tolos. Não sejamos usados. Usemos a razão. Façamos da consciência o nosso guia. Recusemos ser instrumentos de ódio e desordem.
Manifestar-se é direito. Vandalizar é crime.
Não é à toa que os mesmos que ontem destruíram cidades, hoje incentivam os filhos a fazer o mesmo. É um ciclo que precisa ser quebrado, e só se quebra com educação, responsabilidade e coragem de dizer basta.
Angola precisa de nós. Precisa das lojas saqueadas, dos carros queimados, dos rostos feridos. Precisa dos nossos braços para construir, não para destruir. Precisa das nossas vozes para dialogar, não para incitar. Precisa do nosso patriotismo lúcido, não do fanatismo político.
Por isso, rejeitemos as atitudes simuladas de manifestação. Identifiquemos os verdadeiros inimigos da paz, os instigadores da desordem, os mercadores de sonhos alheios.
Não é tarde. Ainda podemos mudar o rumo. Ainda podemos proteger a Angola que queremos deixar aos nossos filhos. Mas precisamos começar por nós mesmos.