Estou a viver aquela fase da vida em que os amigos se eclipsam, ainda assim sobram os verdadeiros, isso enche-me de satisfação e regozijo-me, mesmo nesta hora difícil. Mas é também hora de balanços, de partilha, e nas visitas dos verdadeiramente amigos e memória rebusca até no mais remoto, vivências onde se cimentaram essas mesmas amizades, que vão para lá da própria família.
Voltei à escola do meu Ukuma, chão da minha saudade, os professores Armando Chilala, Armindo Solunga, no futebol despontavam para o estrelato o Januário e o Liaúca.
Depois chegou a onda revolucionária, os nossos heróis eram Fidel Castro e Che Guevara, no sonho embalam Raquel Welch, Claudia Cardinali, até que a nossa Riquita do Namibe foi a mais bela de Portugal.
Chegou a Revolução dos Cravos, trazia na bagagem a esperança da nossa Independência, que teve marco histórico no Hotel da Penina no Alvor, no Algarve, em Portugal.
A UNITA fundada pela OPVDCA (Organização Provincial dos Voluntários da Defesa Civil de Angola), controlada pela PIDE e orientada pelo Comissário Cardoso, tentou redimir-se da traição de Savimbi, quando em 1966, trocara o apoio português pela influência chinesa. Ainda assim, decorrente do Acordo do Alvor, cada um dos três Movimentos de Libertação recebeu 10.000.000$00 (dez mil contos) do governo português, para instalação em Luanda.
Mas a UNITA não tinha nem quadros, nem militares, e aproveitou a desmobilização dos naturais de Angola das Forças Armadas portuguesas, para criar uma estrutura político-militar. Saiu beneficiada porque a maioria de oficiais e sargentos milicianos eram Umbundos, oriundos dos Seminários e dos Colégios do Huambo integrados na Mocidade Portuguesa.
Sem quadros para interpretar os Acordos, contratou o advogado angolano Fernandes Vieira, que tinha escritório no Edifício Presidente, e centralizou os seus serviços no Huambo, reduzindo Luanda a uma delegação, num segundo andar, junto ao Hotel Trópico, que era também residência do representante, Fernando Wilson dos Santos.
O homem da UNITA com mais prestígio internacional, era então Jorge Sangumba, político, intelectual, civilizado e urbano, mas logo ficou de fora do Governo de Transição, e acabou por ter um triste fim.
Administrativamente havia um príncipe que oriundo o Tribunal Militar da Região Leste, Valdemar Chindondo, foi ele quem viria a dar visibilidade administrativa ao Galo Negro, mas era, também, uma ameaça ao líder e teve triste fim.
Militarmente, mesmo com a propaganda de Samuel Chiwale, logo veio à tona o seu analfabetismo funcional, e foi o ex-capitão do Grupo de Cavalaria dos dragões de Silva Porto (Cuito), saudoso amigo Sachiambo, que organizou as FALA na grande concentração no Kuanza,, também ele com triste fim.
De resto foram os ex-furriéis milicianos que assumiram preponderância na estrutura das FALA, onde despontaram o Tchindande (Black Powel) e Chilingutila.
Jonas Savimbi foi um tirano político e um falhado militar, salvos pelos sul africanos do Apartheid, com o general Magnus Malan no comando, os mais capazes foram dizimados de forma mais repugnante, uma onde de crimes sem contas prestadas, milhares de famílias desfeitas e traumatizadas pelo medo. Conseguiram fugir Jorge Valentim, o mais poderoso nas bases, N’Zau Puna, o capataz do medo, o negociador de armamento Tony da Costa Fernandes, e invariavelmente detidos estavam os intelectuais Jaka Jamba e o Gigo Carmelino.
Com a morte de Jonas Savimbi, que dizia jamais ser segundo em Angola, ficou herdeiro o anão mais fiel, o ditador Lukamba “Miau” Gato, que seguiu a mesma linha, eliminou ou mandou eliminar algumas sombras como e general Fumo, das comunicações, e dentro da mesma filosofia do fundador, apresentou para assinar o Acordo de Paz um general inventado, Kamorteiro foi algo de almanaque.
Emergiram então as divisões de sempre mas que Jonas Savimbi sempre dominou, mas o tempo fez deles todos família no gheto da Jamba, ainda assim em 2019, para combater Samakuva, o “Miau” inventou um líder que como ele é tirano psicopata, e o ACJ “Bétinho, vai ter o mesmo fim que outros tiveram, está no ADN, mesmo a morte de Raúl Danda ainda não foi bem explicada.
Enche-me de satisfação, constatar que ainda há gente íntegra que viveu e andou comigo nestes caminhos, infelizmente pedem anonimato, o medo persiste porque, dizem-me, ainda há milícias no activo.
Trouxe-me a este escrito hoje, para perguntar ao cabeçudo do Liberty Chiyaca, e ao raivoso Marcolino Moco, quantos impeachment teríamos na UNITA e nos Marimbondos?
Será miopia ou surdez?