“Os passageiros da sombra”

ByKuma

14 de Janeiro, 2024

Ficção ou realidade ficcionada, confesso-me decepcionado com Jaime Nogueira Pinto na sua última narrativa acabada de ser lançada.

Parece-me tardia a inclusão amistosa de João de Matos e França N’Dalo, para quem acompanhou a trajetória, parece a revelação de uma sedução ao MPLA, agora com a UNITA moribunda.

Para quem foi uma voz permanente do Galo Negro em Portugal, parece-me bastante tardia a manifestação, após 20 anos da sua morte, de que Jonas Savimbi era culto, intelectual, sedutor, mas assassino ligado a bruxarias e fogueiras inquisitoriais que tantas vidas ceifou.

Também reconhece que a UNITA nunca teve quadros de elite, tinha um punhado de quadros intermédios preparados pelos portugueses. Não era tribalista, era fundamentalmente ruralista, Manuel Rui Monteiro, Lúcio Lara, Viriato da Cruz, Ernesto Lara Filho, Armando da Cruz Neto, Higino Carneiro, e tantos outros eram naturais do Huambo, Benguela e Cuanza Sul.

Mas a minha maior discordância, é a narrativa do fim da guerra, nada teve a ver com a visão da CIA ou KGB, a guerra terminou porque a UNITA foi derrotada militarmente e aniquilada politicamente, com muitos quadros militares e civis em fuga, onde tombou o próprio líder Jonas Savimbi.

José Eduardo dos Santos recuperou politicamente a UNITA, silenciou-os com benesses abrindo-lhes as portas da corrupção, daí o ódio a João Lourenço e Fernando Miala, fecharam-lhes as torneiras, e o novoriquismo entrou em pânico, e para muita gente o saco azul da Jamba também acabou.

Os problemas de Angola já não se compadecem com razões, o diagnóstico está feito, procuramos soluções, e é certo que não será a CIA ou o KGB, não serão os saudosistas de Lisboa, Joanesburgo, Paris ou Nova York a resolver, são os angolanos que têm de determinar o seu caminho, estas variantes justificativas são a prova de que houve sempre tentativas de interferência.

Voltarei ao tema, ainda não terminei o livro, mas já percebi ao que veio.
Pela Nova República…!!!