Os juízes têm sido um dos principais problemas dos mandatos de João Lourenço. Ao ter-lhes entregado um papel essencial no combate à corrupção, o Presidente da República deu-lhes uma voz que nunca tinham tido, e não souberam aproveitar.
O que se passou depois dos juízes se tornarem um dos centros do poder renovado foi a constante intriga e desprezo de uns pelos outros. Os juízes começaram a criar partidos no seu interior e a debater-se entre eles, criando verdadeiras facções que se digladiam com violência inesperada. Ao mesmo tempo, o seu conservadorismo habitual tem permitido que o contra-ataque dos marimbondos também se faça no poder judicial.
O programa do Congresso da Associação dos Juízes Angolanos previsto para o próximo dia 23 de Novembro é o exemplo perfeito desse enquistamento e conservadorismo aliado ao passado.
Basta olhar para os oradores: Raul Araújo, um dos arautos da contra-revolução conservadora e responsável com Carlos Feijó pelo estado deplorável da justiça e direito em Angola; Luzia Sebastião que recentemente serviu de porta-voz dos eduardistas na justiça contra João Lourenço; Eduardo Vera-Cruz, professor português para todas as estações. E para terminar cosmicamente ou comicamente, Benja Satula o interlocutor preferido dos mortos.
Todas estas pessoas, e outros que por lá estão, serão juristas do mais alto calibre, estudiosos de relevo com alta craveira intelectual, mas têm em comum o colaboracionismo com a desgraça angolana, com o sistema que afundou o país, apresentando-se agora como reformistas e defensores do Estado de Direito, prática que nunca seguiram quando o poder foi deles e açambarcaram todas as benesses.
Por isso, este congresso mais parece um cavalo de Tróia. Debaixo das vestas da pureza sacerdotal do conhecimento, introduzem-se uma série de pessoas agastadas com o seu ofuscamento que só procuram o regresso ao passado, aliados aos ingénuos úteis do costume.
Os juízes deveriam virar-se para o futuro e não para o passado, deviam rasgar caminhos de inovação e não procurar pneus gastos. Assim não vamos lá.