O Primo dos Primos

ByKuma

21 de Abril, 2023

Vou ser sucinto, susceptível de ferir alguém, não sou menos nem mais que ninguém, mas recuso-me a aceitar o absurdo como normalidade imposta, sobretudo quando campeia uma hipocrisia ostentada por uma idiossincrasia pedante e cúmplice que vegeta à sombra de oportunismo vergonhoso.

Nunca me senti tão perto de estar tão longe destas elites de pés de barro, visitam os túmulos de Camões, brindam com tinto do Douro ou do Alentejo, e no avião do regresso chamam de labregos, e dão a boleia a ladrões e corruptos, e dão guarida aos foragidos de crimes públicos.

Nos salões do Império come-se feijoada da roça, desfilam mulatas que as escravas pariram com o patrão, unem-se como bichas manhosas e matreiras e distribuem prémios de Camões que simboliza a língua que os une como mais iguais entre iguais que os amanhãs de ontem nunca cantaram.

O Povo que pulsa a alma que atravessa os tempos, que vem das raízes, construiu a memória, e carrega o presente, esse verdadeiro sentir colectivo sincero, que tem nas rugas a sabedoria que vai deixando o infinito como herança, prefere a simplicidade de uma Sanzala onde predomina a amizade sincera, gosta de moamba de galinha com pirão ou funge, com jindungo, com quissângua, aquela de dêndem da palmeira do quintal que deixa marca na camisa e nos beiços, e que obriga a uma sesta à sombra de uma mulemba ou de uma mangueira.

Não há donos da lusofonia, por muitos aliados e cúmplices que se aglomerem na cartilha dos interesses, há uma verdade que ultrapassa os ignóbeis, o cozido à portuguesa, o bacalhau, o azeite, o Benfica, o café, o quiabo, o maboque, a caldeirada de cabrito, o jindungo, o lomby, o óleo de palma, são a identidade verdadeira e fraterna que os povos abraçam na sua simplicidade, nos laços de amizade, de cultura, até de consanguinidade, no respeito mútuo, e que derrubam todas as fronteiras da imbecilidade humana.

Estamos hoje entre pretensos donos da lusofonia, irmanados por foragidos da justiça, corruptos comprovados, ladrões certificados, num vai vem de novos ricos que brindam numa espécie de Ballet Rose moderno, à custa de uma servidão que não tem raça nem cor.