Lembramo-nos que muitos patetas alegres que se intitulam economistas em Angola andaram em elogios ao presidente da Zâmbia e à sua política “astuta”. Outros gostam de criticar a política externa de Angola, não percebendo nada do que se passa.
A verdade vem, agora, ao de cima, e a verdade é que Angola, Zâmbia ou África só podem depender de si mesmo e do seu interesse nacional. É um erro pensar que os Estados Unidos, a China, a Rússia, o FMI ou o Banco Mundial vão resolver os problemas da Zâmbia, de Angola ou de África. Não vão. O que vão fazer é aplicar modelos que principalmente os beneficiam e muitas vezes são tudo o que um país não precisa.
O que está a acontecer na Zâmbia poderia ter acontecido em Angola se o Presidente da República não tivesse percebido a tempo o interesse nacional.
Em incumprimento desde 2020, a Zâmbia luta para convencer a China a reestruturar a sua parcela da dívida, que chega a mais de US$ 6 mil milhões. Nenhum acordo foi alcançado, e Beijing está a pedir aos credores multilaterais que se juntem ao esforço, levantando temores de que as negociações possam ser prolongadas. “Instituições multilaterais e credores privados detêm a maior parte da dívida externa da Zâmbia, em 24% e 46%, respetivamente”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, em entrevista coletiva. “Portanto, a participação deles nos esforços para aliviar essa dívida é crucial.”
Isto quer dizer que a China não quer decidir nada sozinha e recusa-se a compromissos urgentes. Não facilita a Zâmbia. Lá vai a retórica win-win e da solidariedade harmoniosa.
Por sua vez, os Estados Unidos, o que fizeram com a recente visita da secretária do Tesouro Janet Yellen à Zâmbia foi apenas criticar a China, levando em força para África a sua nova guerra fria, mas não apresentaram nenhuma solução para a Zâmbia.
Logo, EUA conversa sem conteúdo prático.
O FMI também ajuda pouco, apesar dos anúncios públicos. Em visita a Lusaka da diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, disse: “Se a reestruturação da dívida não for concluída rapidamente, terá um efeito negativo em todos os esforços que temos feito para reconstruir a economia e atrair investimento.”
Quer isto dizer que o FMI faz depender a ajuda real à negociação com a China, e a China não faz negociações sozinha. Os Estados Unidos só falam. Os zambianos estão sozinhos.
Pior, o FMI exigiu que a Zâmbia removesse os subsídios de energia “mal direcionados”. Essas medidas afetaram significativamente os mais pobres do país, ou 60% da população.
E os indicadores económicos do país já estão em baixa. O crescimento do PIB foi de 2% em 2022, com um déficit comercial de $ 26,2 milhões e inflação de quase 10%.
A excessiva intervenção estrangeira está a ser receita para o desastre na Zâmbia.
É preciso tomar atenção em Angola para não se seguir em demasia a China, os Estados Unidos e o FMI, para não falar da Rússia.
São os angolanos que têm de resolver os seus problemas de acordo com as realidades locais, tal como os zambianos.