São seis décadas de juventude para uma velhice colonizada, era eu menino de escola quando o sobressalto que rompeu o silêncio de uma revolta adormecida, fez tremer os alicerces dos instalados. Heróis arrojados, com o sacrifício das próprias vidas, pereceram com o Grito da Liberdade na garganta, levaram nas suas almas o sonho da dignidade humana, e a sede da conquista de uma identidade de cidadania, sem preço, pese alguns constrangimentos.
Angola vive ainda a irreverência da sua juventude, um turbilhão de acontecimentos estão a escrever a sua história, persistem desavindos, oportunistas e traidores, e os neocolonialistas nunca desistiram e têm os seus peões no xadrez que tece o amanhã dos povos. Devemos homenagear os heróis do passado, lembrar os que tombaram, devemos contabilizar os custos da Liberdade, mas neste tempo decisivo de viragem urge encontrar um caminho, e não permitir que este Dia que deveria ser de festa e de consenso nacional, seja obscurecido por alienações a uma permanente subversão que obstaculizam o progresso que tanto sacrifício exige.
Se é verdade que o sonho de Conákri encontrou eco na poesia de Neto, o silenciar das armas ainda não se traduziu no respeito pelo Estado e a sua representatividade Executiva, Legislativa, Judiciária, restando como baluarte a integridade das Forças Armadas, quando a clandestinidade ainda perturba a coesão policial.
O 4 de Fevereiro deveria ser uma data de Angola, e Angola deveria englobar todos os seus cidadãos, mas há ADN nas veias de tanta gente, que invariavelmente se revê em Lisboa, no Dubai ou em Israel, subalternizados aos diretórios que desde 1895 em Berlim sonegam os Direitos de milhões de cidadãos em África.
O colonialismo claudicou, é urgente travar os agentes da cobiça externa onde se alimenta a UNITA e particularmente ACJ, o retrocesso pode custar a preço da Liberdade conquistada, e as dificuldades decorrentes da herança e do contexto da Pandemia Global, não podem ser exploradas pelo medo e pânico, para subjugar os Povos a modelos de escravatura moderna.
Óh sonho de tanta lonjura,
Da viagem comprida,
Por caminhos gentios rasgados,
Com suor, lágrimas e sangue,
Feridas abertas,
Cicatrizes marcadas,
Servidão,
Pulsar de raiva silenciada,
Tempo pintado de saudade,
Vontade de tsunami,
Na conquista da Liberdade.
Gente de coragem sem medida,
Do algodão de Malange,
À cadeia de São Paulo de Luanda,
Senhores sem destino,
Senhoras sem dono,
Puzzle de caprichos hediondos,
Chama ardente escondida,
Grito preso na garganta,
Pensamento açoitado,
Amanhãs que nunca cantavam,
Até que ecoou o começo,
Que se ouviu no mundo inteiro,
O silêncio ruidoso de um Povo,
No 4 de Fevereiro.