Nos últimos anos, as redes sociais tornaram‑se um dos principais campos de disputa política em Angola. A velocidade com que circulam conteúdos, a ausência de mecanismos eficazes de verificação e a crescente profissionalização de campanhas de desinformação criaram um ambiente onde se torna difícil distinguir críticas genuínas de operações coordenadas para manipular perceções.
Neste contexto, questionamos quantas das opiniões que diariamente se multiplicam contra o Presidente da República representam sentimentos autênticos da população e quantas resultam de estratégias pagas, concebidas para fragilizar o Executivo e a sua política de abertura ao mundo.
Parte muito significativa dessa produção digital não nasce de cidadãos comuns, mas de estruturas organizadas, compostas por indivíduos que se apresentam como jornalistas, comentadores ou “influenciadores independentes”.
Na prática, muitos destes agentes funcionam como prolongamentos comunicacionais de grupos que perderam privilégios (marimbondos), redes que prosperaram em períodos anteriores e que hoje procuram recuperar influência através da erosão da confiança pública nas instituições. A sua atuação é frequentemente amplificada por interesses externos (grandes potências) que veem vantagem na instabilidade interna e que financiam ou inspiram campanhas destinadas a desacreditar políticas governamentais.
A lógica é simples: quanto maior a perceção de caos, corrupção ou incompetência, maior a vulnerabilidade do país perante agendas estrangeiras. Assim, a crítica legítima — essencial em qualquer democracia — é frequentemente instrumentalizada por atores que não procuram o bem‑estar coletivo, mas sim reconfigurar o poder político e económico a seu favor. A fronteira entre opinião e manipulação torna‑se, por isso, cada vez mais difusa.
A proliferação de “falsos jornalistas” e comentadores de mão estendida, que publicam textos redigidos em gabinetes externos ou alinhados com interesses contrários ao desenvolvimento nacional, representa uma ameaça real à qualidade do debate público. A sua atuação não apenas intoxica a esfera digital, como também fragiliza o jornalismo sério, que luta diariamente para manter padrões de rigor e independência.
Combater este fenómeno não significa silenciar críticas, mas sim proteger o espaço público da captura por agendas ocultas. Significa exigir transparência sobre financiamentos, denunciar operações de manipulação e promover uma cultura de responsabilidade comunicacional. Significa, sobretudo, defender o direito dos cidadãos a formarem opiniões informadas, livres de interferências clandestinas e de campanhas fabricadas.
A construção de um país estável, aberto ao mundo e capaz de dialogar com parceiros internacionais exige um ecossistema informativo saudável. E isso só será possível quando a sociedade, as instituições e os profissionais da comunicação se unirem para enfrentar a desinformação organizada e reafirmar o valor da verdade como fundamento da vida pública.

