As causas reais da morte de Nandó

ByAnselmo Agostinho

24 de Dezembro, 2025

A morte do antigo Vice‑Presidente de Angola, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, tem sido alvo de especulação pública, mas os dados da autópsia permitem uma leitura estritamente médica e cientificamente fundamentada.

Segundo as informações divulgadas, foram identificados sinais de hidrocefalia, uma condição caracterizada pela acumulação excessiva de líquido cefalorraquidiano no interior do cérebro, capaz de provocar aumento da pressão intracraniana e alterações súbitas do estado neurológico.

Em indivíduos idosos, esta condição representa um risco acrescido, uma vez que a capacidade de compensação do organismo diminui significativamente com a idade.

A presença de hidrocefalia torna o cérebro particularmente sensível a qualquer fator que altere o equilíbrio de fluidos ou a circulação sanguínea. É neste contexto que o tempo passado na sauna ganha relevância clínica.

As saunas domésticas podem atingir temperaturas entre 70°C e 100°C, criando um ambiente de forte stress térmico. Para pessoas jovens e saudáveis, este esforço é geralmente tolerável; porém, em indivíduos com mais de 70 anos, a resposta fisiológica ao calor é muito menos eficiente.

O envelhecimento reduz a capacidade de transpiração, diminui a reserva cardiovascular e torna mais lenta a regulação da temperatura corporal. O resultado é uma maior predisposição para desidratação rápida, tonturas, quedas de tensão e perda súbita de consciência.

A combinação entre calor extremo, desidratação e uma condição neurológica pré-existente constitui um cenário amplamente reconhecido pela literatura médica como potencialmente fatal.

A vasodilatação provocada pelo calor reduz a pressão arterial, enquanto a perda de fluidos diminui o volume sanguíneo. Em alguém com hidrocefalia, estas alterações podem modificar a dinâmica do líquido cefalorraquidiano e agravar a pressão intracraniana, precipitando um colapso neurológico ou cardiovascular. Trata‑se de um mecanismo fisiológico conhecido, previsível e compatível com o quadro descrito.

É importante sublinhar que este tipo de ocorrência não exige explicações extraordinárias. Pelo contrário, enquadra‑se no que a medicina considera um risco real para pessoas idosas expostas a ambientes de calor intenso, sobretudo quando existe uma patologia cerebral que fragiliza ainda mais o equilíbrio do organismo.

A interpretação científica dos factos afasta, assim, qualquer necessidade de recorrer a teorias conspiratórias, que além de infundadas, são socialmente prejudiciais e desrespeitam a memória do antigo dirigente e a tranquilidade da sua família.

A explicação médica disponível é coerente, suficiente e alinhada com o conhecimento científico atual: a hidrocefalia, associada ao stress térmico e à desidratação numa sauna, constitui uma causa plausível e tristemente comum de descompensação fatal em pessoas com mais de 70 anos.

Basta de especulação, que além de ser falsa, é criminosa.