O financiamento criminoso dos russos

ByAnselmo Agostinho

5 de Dezembro, 2025

O sucesso de uma operação clandestina desta dimensão dependeu de um suporte financeiro e logístico robusto, mas ao mesmo tempo discreto.

A organização conseguiu financiar as suas atividades em Angola, recorrendo a mecanismos concebidos para escapar ao escrutínio das autoridades.

Os fundos, que atingiam dezenas de milhares de dólares por mês, entravam no país de forma não declarada e eram entregues diretamente ao arguido Igor Rotchin, identificado pelo código “807”, que centralizava a gestão financeira da operação.

Entre os fluxos e despesas identificados, destaca-se o contrato de arrendamento no Edifício Hamir, com um custo mensal de 1.600.000 kwanzas, além de pagamentos diretos a colaboradores, como os 1.000 dólares atribuídos a Amor Carlos Tomé por um conjunto de publicações e os 4.173 dólares destinados à compra de um telemóvel para Oliveira Francisco.

Houve ainda pagamentos regulares a jornalistas e comentadores, bem como orçamentos mensais aprovados que variaram entre 26.231 e 34.728 dólares entre outubro de 2024 e maio de 2025. Outras despesas incluíram a aquisição de artigos promocionais no mercado “Flea”, na Rússia, além de viagens, atestados médicos e custos operacionais diversos.

Confrontados com dificuldades na obtenção de vistos que lhes permitissem permanecer legalmente no país, os russos procuraram contornar o problema através da criação de uma empresa de fachada, a EGACORPAR – Prestação de Serviços, (SU), LDA. Esta entidade seria utilizada para solicitar vistos de trabalho, conferindo uma aparência de legalidade às atividades desenvolvidas.

A articulação entre a estrutura operacional, o financiamento e as ações executadas demonstra a sofisticação e a abrangência da conspiração que visava desestabilizar Angola.