Nas últimas décadas, temos assistido a um declínio preocupante na capacidade de compreensão e processamento de informação por parte do ser humano. Estudos internacionais indicam que, nos últimos 10 a 12 anos, a capacidade média das pessoas para resolver problemas, raciocinar logicamente e integrar informações tem vindo a diminuir de forma consistente. Uma das principais hipóteses para esta queda prende-se com a mudança nos hábitos de leitura e no modo como consumimos informação, em particular com o impacto da internet, dos smartphones e das redes sociais.
Durante muito tempo, a leitura de textos longos e complexos foi considerada essencial para o desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de análise. No entanto, dados recentes revelam que o hábito da leitura tem vindo a diminuir drasticamente, não só nos Estados Unidos, mas também em outros países. Uma pesquisa de 2024 mostra que, pela primeira vez, a maioria das pessoas não leu sequer um livro completo nos três meses anteriores ao estudo. Este cenário sugere que o abandono da leitura está a contribuir para a perda da capacidade de sintetizar informação, fazer inferências e refletir de forma profunda.
Contudo, a questão vai além da simples falta de leitura. A forma como utilizamos os dispositivos digitais e consumimos conteúdos mudou radicalmente nos últimos anos. Antes, as redes sociais proporcionavam uma interação mais ativa e pessoal, mas hoje os algoritmos privilegiam uma sequência infinita de conteúdos curtos e de baixa complexidade, promovendo uma atitude mais passiva. Além disso, a proliferação de notificações e a fragmentação da atenção tornam mais difícil manter o foco e o raciocínio contínuo.
O resultado é evidente: cerca de 25% dos adultos nos países da OCDE já apresentam dificuldades em realizar raciocínios matemáticos simples ou em integrar informações de um texto. Este fenómeno não indica necessariamente um declínio irreversível na inteligência humana, mas sugere que o modo como consumimos informação está a afetar a nossa capacidade de compreensão e execução cognitiva.
O desafio para o futuro será encontrar um equilíbrio entre o acesso fácil à informação e a manutenção da profundidade de pensamento que define o intelecto humano.