A ignorância predomina nas discussões sobre a liberdade de imprensa (comunicação social) em Angola. Pensa-se logo na TPA e no Jornal de Angola como se não houvesse mais comunicação social, e, sobretudo, não se estivesse num tempo completamente diferente com blogs, jornais digitais, redes sociais, etc. A comunicação social de hoje nada tem a ver com os modelos do passado, mesmo aqueles que foram transcritos para a Constituição.
Antigamente, pensava-se no âmbito de broadcast (radiodifusão). Havia um número reduzido de jornais e televisões de ampla circulação vocacionados em prestar informação objectiva e imparcial para a população em geral. Não é o que se passa hoje. Agora temos inúmeros, milhares mesmo, de veículos de comunicação, que fazem aquilo que se chama narrowcast-difusão estreita que visa transmitir uma mensagem a um pequeno número de pessoas com maior probabilidade de estar interessadas nesse conteúdo. Se repararmos, hoje em dia, qualquer pessoa já escolhe o que quer ouvir, pois tem várias hipóteses, procurando aquele meio que gosta mais.
A radiodifusão-broadcasting– era uma estratégia de comunicação que procurava atingir um público amplo e geral, enquanto actualmente, os meios são procurados por público específico e de nicho.
Não tem sentido falar de liberdade de imprensa apenas a propósito do órgãos do Estado. Actualmente, a análise tem de ser feita tendo em conta todos os meios a que o cidadão normal tem acesso. Assim, temos os órgãos públicos (TPA, JA, etc), os órgãos privados (NovoJornal, Expansão, Rádio Essencial, Valor Económico, etc), os órgãos estrangeiros para Angola (DW, VOA, Lusa, RFI), os órgãos digitais (Club-K, MakaAngola, LilPastaNews, Correio Kianda), as páginas Facebook, os grupos Whatsapp, etc.
Quando se fala em comunicação social é disto tudo que se fala e não como no passado, apenas duma televisão e de um grande jornal. O paradigma mudou.
Em Angola, concretamente, se temos uma imprensa pública mais próxima do governo ( e tem de ser assim, senão, como veremos, o espectro ficaria desequilibrado), temos uma imprensa privada anti-governo, com forte tendência favorável à oposição (Novo Jornal, Rádio Essencial, por exemplo), os órgãos digitais também fortemente críticos (Club-K, MakaAngola, etc), as redes internacionais alinhando com a oposição (DW, de forma execessiva, e VOA) ou neutras (LUSA, RFI), e as páginas de Facebook para todos os gostos. Todos estes meios estão acessíveis ao povo angolano, não há restrições, não há censura, não há uma Grande Muralha Digital como na China. Há uma pluralidade de meios de comunicação acessíveis a toda a população. Não se pode dizer que não há liberdade de imprensa. Nalguns casos, até há em demasia, pois ultrapassam os limites legais.
É com este novo paradigma e antendendo ao que é a comunicação social no século XXI que se deve analisar a questão e não utilizando instrumentos já ultrapassados que só servem para fazer confusão.
Esta é uma razão, entre muitas outras, para uma Nova Constituição moderna e actual, não baseada no seculo XIX.