Narrativas e detalhes

ByTribuna

27 de Agosto, 2023

Está a ser criada uma narrativa que se transforma em verdade através da repetição todos os dias. Essa narrativa aponta Angola como um país em que só há miséria, fome, desemprego, desespero e falta de futuro. Tudo o que é bom é esquecido, tudo o que é mau é exagerado até ao infinito.

Um dos aspetos mais importante dessa narrativa é a taxa de desemprego jovem. Quase todos os jovens são dados como desempregados. O próprio Instituto oficial de estatística de Angola aponta uma taxa de desemprego juvenil de 52,9% (dados do quarto trimestre de 2022 – INEA Folha de Informação Rápida, Inquérito ao Emprego em Angola, IV Trimestre 2022, p. 9). São as estatísticas oficiais a dar razão à narrativa negativa…

E no entanto, elas estão erradas. O método usado pelo INEA não avalia se os jovens estão ou não ativamente à procura de emprego. Os jovens podem estar a estudar ou noutras atividades e não procurar emprego. Mesmo assim, em Angola, ao contrário de outros países, considera-se que estão desempregados.

Também, em geral, exige-se que o jovem tenha procurado emprego ativamente nas últimas três semanas. Não é isso que em Angola se faz.

O resultado é que na estatísticas angolanas todos os jovens entre 15 e 24 anos, mesmo aqueles que tenham declarado que não procuraram emprego nos 30 dias anteriores ao inquérito do INEA, são considerados desempregados. Não é este o critério aplicado noutros países em desenvolvimento, onde os números do desemprego juvenil são, por isso, menos desanimadores do que em Angola.

Para se começar a inverter a narrativa negativa, têm de ser dados passos adequados e acabar com as fantasias que contam com colaboração oficial. Se os Estados Unidos e a Europa são exemplo para muita coisa também o devem ser para as metodologias das medidas de desemprego.