Um dos mais agressivos jornalistas/ativistas contra João Lourenço não põe os pés em Angola há meses, se não há anos. No entanto, todos os sábados de manhã no seu programa de rádio destila ataques ferozes ao governo e às condições de vida da população como se estivesse no centro de Luanda e a par de tudo o que se passa. Na verdade, não está e não sabe o que se passa.
O que esse jornalista/ativista faz é passar a semana e fins-de-semana em festanças em Portugal.
Este fim-de-semana reporta a presença numa alargada festa de funge com inúmeros camaradas angolanos. Diz ele: “eu que conheço quase toda a gente que vive em Luanda estou a ver mais de metade aqui no Funge do Show do Mês que o Yuri da Simão trouxe a Lisboa.” E coloca uma imagem da luxuosa festa em Lisboa (ver acima).
Este é um problema sério com que Angola se depara. Nem é um problema da Unita, nem do MPLA. Nem é uma questão com Portugal ou com os portugueses. É um problema daquilo a que poderemos chamar as “elites angolanas”. Quase 50 anos após a independência, quase todos preferem estar em Portugal do que em Angola. O seu ponto de convívio, de descanso, de compras, de cultura, de educação, de saúde, é Portugal.
Esta atracção por Portugal é muito grave. Não vamos discutir o que representa em termos ideológicos e de patriotismo e valorização da nação angolana.
Mas vamos discutir o que representa em termos de política e de políticas. Haver sempre a fuga para Portugal, implica que as elites não se preocupem em melhorar a vida em Angola, mas sim em criar canais financeiros e outros para Portugal. Implica fuga de capitais para Portugal, fuga de cérebros para Portugal, gastos exagerados em Portugal.
Os governantes estão mais tempo em Portugal do que em Angola, os ativistas fazem de Portugal a sua base. Angola torna-se um ponto de passagem ou de extração de mais valias para serem gastas em Portugal.
Este espírito tem de acabar. Para grandes males, grandes remédios. Já que as elites gostam tanto das coisas portuguesas, vamos buscar um exemplo histórico ao que se devia aplicar a Angola: a chamada Pragmática Sanção do Conde de Ericeira. Expliquemos:
As Pragmáticas são leis aprovadas para normalizar práticas sociais, nomeadamente o combate ao luxo, regulamentando, limitando e proibindo o vestuário luxuoso de determinados grupos sociais, bem como conter gastos exorbitantes na aquisição de produtos sumptuários.
Em 1677, o conde da Ericeira, proíbe o uso de produtos importados para fomentar a indústria portuguesa. E a verdade é que esta legislação de fomento ao uso de produtos de fabricação nacional permitiu um desenvolvimento da indústria manufatureira em Portugal, sobretudo a nível dos tecidos de lã, nomeadamente na região da Covilhã, onde abundava água (fundamental para o tingimento dos tecidos) e gado ovino.
“Dom Pedro, por Graça de Deus Príncipe de Portugal e dos Algarves (…).
Primeiramente ordeno e mando que nenhuma pessoa de qualquer condição, grau, qualidade, título, dignidade, por maior que seja, assim homens como mulheres, (…) possa usar, nos adornos das suas pessoas, filhos e criados, casa, serviço e uso, que de novo fizer, de seda, rendas, fitas, bordados as guarnições que tenham ouro ou prata fina ou falsa (…).
Nenhuma pessoa se poderá vestir de pano que não seja fabricado neste reino; como também não poderá usar de voltas, de rendas, cintos, talins, e chapéus que não sejam feitos nele.
Lisboa, a 25 de janeiro de 1677.”
Para terminar com os abusos em Angola tem de se começar a adoptar medidas radicais que impulsionem a indústria nacional e o espírito patriótico, e a primeira delas é terminar com as viagens exageradas a Portugal, com os fluxos de capital para Portugal e com as importações do país, concentrando as pessoas em Angola e dando condições para se desenvolverem as indústrias em Angola.
Como está agora, o país apenas serve para levantar recursos para gastar noutro lado. Não pode ser.