O que aconteceu com Laurent Kabila quando abandonou Angola?

ByTiago Q. Armando

19 de Março, 2025

O problema não é que Angola não seja um interlocutor válido para o processo de mediação do conflito na RDC, o problema é que Angola não permite que o Congo seja vergado. E Lourenço tem enfrentado Kagame, por esta razão ele mudou o discurso acusando Angola de estar a ser parcial na mediação.

Vale lembrar que foi Angola (Lourenço) que mediou o conflito entre Kagame e Museveni na fronteira Gatuna/Katuna em 2020. Este processo culminou com a assinatura de um memorando e a libertação de prisioneiros, 20 ugandeses que estavam presos no Ruanda e o Uganda libertou 13 cidadãos ruandeses.

Kagame é tão astuto que no primeiro consulado de Lourenço, queria estar mais próximo de Luanda para isolar Tshisekedi, infelizmente não conseguiu, a partir daí Kagame deixou de ver Lourenço com bons olhos, ou seja, deixou de tratá-lo como “mano”.

Em 1998 quando Laurent Kabila estava na iminência de cair, porque os Banaiyamolgue na RDC já tinham conquistado, Kintona, Kissangani e até mesmo a barragem do Inga, onde chegaram mesmo a cortar energia a Kinshasa, porque o grande comandante ruandês James Kaberebe na altura financiado por Ruanda estava com muita força, as operações eram articuladas a partir dos Kivus.

JES e Mugabe sabendo da astúcia de Kagame e Ywoeri Kaguta Museveni, mandaram para lá um contingente militar. As FAA começaram as suas incursões Cabinda-Matadi deram uma surra aos Baniyamulegues, conquistaram Banana, Kintona e Boma quebrando a cadeia de abastecimento que vinha de Ruanda para James Kaberebe.

Laurent Kabila tinha fugido para Lubumbaxi, mas o grande objectivo dos rebeldes era tomar Kinshasa, tal como hoje o M23 diz. Naquela altura, graças à pronta intervenção de Angola porque os rebeldes tentaram ainda controlar o aeroporto de Njili, foram derrotados.

Até então, o que Kagame estrategicamente fez foi colocar a imagem do medianeiro angolano em desgaste, porque tem sido exigente com ele no sentido de honrar os compromissos.

Tshisekedi anda frágil e sem saber o que fazer, não consegue derrotar o M23, Kagame cortou relações com a Bélgica.
Agora foi a Qatar onde Kagame e o M23 vão vergá-lo. E se não aceitar as condições que lhe forem impostas, o M23 vai intensificar os ataques e vão avançar no sentido Kinshasa.

Nesta altura Kinshasa tem sido um verdadeiro palco de exercício da chamada diplomacia de bastidores, os Ocidentais não querem que ele caia nas mãos dos Orientais, aliás, quando tentou fazer alguns contactos fora do meio ocidental, em Maio de 2024, mandaram-lhe uma mensagem clara, com aquela tentativa fracassada de golpe de Estado.
Tshisekedi deve ter muito cuidado para não acabar golpeado, o risco pode vir de dentro, foi assim que Rashidi na altura guarda pessoal de Laurent Kabila disparou moralmente contra ele e em seguida de forma misteriosa Edikapenda também eliminou Rashidi.

Em relação ao Qatar é preciso ter cuidado, aliás são várias as acusações que pesam sobre este país como um dos grandes financiadores de grupos rebeldes no Médio Oriente, vale lembrar mais uma vez do grupo empresarial libanês acusado de estar envolvido no golpe contra Laurent Kabila.